Saúde

Campanha do Novembro Azul: como combater fake news e preconceito

*Por Bruno Vedovato

Novembro é o mês destinado à conscientização e prevenção do câncer de próstata. Este que é a segunda maior causa de óbito oncológico no sexo masculino e a neoplasia sólida mais comum.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 25% dos pacientes com câncer de próstata ainda morrem devido à doença. Atualmente, cerca de 20% ainda são diagnosticados em estágios já avançados, o que indica que exames preventivos ainda não são frequentes como deveriam.

Ainda segundo o INCA, estão estimados 65.840 casos novos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens, constituindo o tipo de câncer mais incidente nos homens (excetuando-se o câncer de pele não melanoma) em todas as regiões do país.

Esse alto índice, apesar dos avanços terapêuticos, também está ligado ao preconceito e fake news que a campanha tem enfrentado. Sempre oriento que a prevenção deve começar desde cedo na vida do homem, incentivando-o a procurar e criar um vínculo com seu urologista de forma a construir uma relação de confiança. Dessa forma, ano após ano exames pertinentes à faixa etária são feitos, bem como orientações preventivas.

Ao atingir a idade preconizada pelas recomendações, o rastreamento do câncer de próstata acabará ocorrendo de forma mais natural e o paciente se sentirá mais seguro quanto a realização tanto do exame de sangue quanto do exame de toque. Essas ações podem diminuir a incidência de diagnósticos em estágio avançado, o que aumenta as chances de cura do tumor. Desde de 2018 há uma campanha nacional promovida pela SBU – Sociedade Brasileira de Urologia – intitulada Vem pro Uro (#vemprouro) que procura conscientizar a procura pelo urologista desde cedo, como já culturalmente ocorre com as mulheres.

Desta forma, instruções a respeito dos fatores de risco modificáveis podem ser feitas, minimizando as chances da doença no futuro. Ainda há muito tabu sobre a realização, principalmente, do exame de toque retal. Mas a boa notícia é que isso tem melhorado bastante.

No dia a dia de consultório, era muito comum homens irem “arrastados” pelas esposas ou filhas para realizar o exame. Hoje, a procura voluntária é muito maior. Isso mostra que a campanha de conscientização tem feito seu papel ao longo dos anos e que a conscientização e combate ao preconceito tem surtido efeito.

Mas além do receio do homem em procurar um médico, temos outros obstáculos a enfrentar. Por ser um assunto muito presente na mídia e pela frequência dos casos, acabam surgindo estratégias de prevenção que não tem respaldo científico, as fake news.

É importante deixar claro que nenhuma medida de forma pontual ou exclusiva irá combater o câncer de próstata. Bem como os demais cânceres em outros órgãos, esse tipo de tumor envolve múltiplos mecanismos e deriva dos mais diversos fatores de risco. É importante buscar informações em fontes confiáveis como sites de instituições da área da saúde.

Notícias difundidas sem uma fonte de informação confiável devem ser questionadas com o médico do paciente. E para prevenção do câncer, ainda é preciso que o indivíduo observe desde cedo seus hábitos: ter uma alimentação saudável, praticar atividade física com regularidade, evitar o tabagismo, valorizar uma boa noite de sono.

Enfim, podem parecer medidas simples e um clichê dos profissionais da saúde, mas são esses hábitos do dia-a-dia que, a longo prazo, fazem uma enorme diferença e tem comprovação científica de eficácia. A prevenção se constrói desde cedo na vida, cultivando bons hábitos.

O aumento da expectativa de vida que estamos tendo nos últimos anos pode manter os números de acometidos pelo câncer em destaque. Mas respeitando-se as orientações e as estratégias de detecção precoce, acredito que possamos melhorar muito ainda as taxas de mortalidade pela doença bem como o número de casos diagnosticados em estágios mais avançados.

Outro ponto a ser observado nos casos de câncer de próstata é o histórico de familiares com a doença, pois é um fator de risco bem estabelecido. Pacientes com um familiar de primeiro grau com a doença tem duas vezes mais risco de tê-la, quando existem dois parentes envolvidos, este risco sobe para cerca de 6 vezes. No entanto, a minoria dos casos é de origem exclusivamente hereditária.

Com o relacionamento entre médico e paciente bastante consolidado, informações científicas corretas e estratégias de prevenção em dia, o tratamento é beneficiado aumentando as chances de cura. O Hospital São Francisco de Mogi Guaçu acredita que a multidisciplinaridade é fundamental no cuidado destes pacientes, contando com diversos profissionais da saúde no acompanhamento do protocolo de tratamento com serviços de oncologia e radioterapia.

Concluindo, acredito que a atenção e as informações corretas sobre a prevenção e o tratamento da doença sejam as formas mais eficazes de um diagnóstico precoce. A conversa franca com o médico urologista ou de qualquer outra especialidade é fundamental para a saúde de todos.

O Novembro Azul lembra-nos de tomar cuidado, mas o câncer acomete pacientes todos os meses do ano.

*Doutor Bruno Vedovato é urologista do Hospital São Francisco de Mogi Guaçu e possui título de especialista em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia.

Mostrar mais

MGA

Artigos relacionados

Deixe um comentário

Botão Voltar ao topo
Nenhum número escolhido ainda
Copy Protected by Chetan's WP-Copyprotect.